Palestra

Uma cultura do individualismo levou alguns cristãos a pensar que eles possam evitar a “religião organizada” e simplesmente viver a vida cristã por conta própria. Deus nunca pretendeu que fôssemos cristãos “isolados.” Depois que tomamos uma decisão pessoal de seguir a Cristo, não podemos sustentar nossa caminhada espiritual longe dos outros crentes. Deus compreende isso e eis o porquê de Ele ter providenciado a igreja local, como lugar em que possamos experimentar crescimento espiritual e ajudar àqueles que encontramos lá.

I. Por que envolver-se com a igreja local?

Não é nenhum acidente que uma das melhores definições de evangelismo nos diga que a conversão verdadeira deva resultar em envolvimento com a igreja local.

William Temple a expressou dessa forma: “O evangelismo é a apresentação de Jesus Cristo no poder do Espírito Santo, de tal forma que homens [e mulheres] possam vir a confiar nEle como Salvador e servir a Ele como Senhor na comunhão de Sua igreja.”

No mundo de hoje, esse tipo de relacionamento pode ser encontrado, em primeiro lugar, através da igreja. É vital, para as nossas vidas espirituais, que compreendamos a importância que Deus atribui à igreja e por que necessitamos estar envolvidos.

II. O que entendemos por “igreja?”

A palavra traduzida por igreja no Novo Testamento vem do termo grego ecclesia, que significa “chamado de fora.” Trata-se de uma palavra que simplesmente identifica os que se separaram do mundo através do relacionamento com Jesus Cristo. A igreja não é um prédio e não é uma organização. Trata-se de um organismo vivo, constituído de cristãos.

A igreja pode ser entendida de duas formas. Primeiro há o que é chamado de a “igreja invisível.” Os teólogos não querem dizer que você não possa vê-la, mas que ela representa todos os cristãos pesde pentecoste até a volta de Cristo. O seu destino será viver com Jesus Cristo em Pessoa em uma comunidade eterna de crentes.

Usando a metáfora de Jesus como pastor, e dos crentes como as ovelhas, Ele disse:

“As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar” (Jo 10:27-29).

Ser um cristão é estar num relacionamento com Cristo, em quem confiamos e o qual seguimos.

O segundo aspecto da igreja pode ser chamado de “igreja visível.” Ele se refere àqueles que podem ser vistos ativamente envolvidos em uma comunidade de fé, em que os cristãos buscam crescer nas suas vidas espirituais e servir a Cristo.

É tão vital que cada membro seja dependente do outro, que o Novo Testamento repetidamente nos exorta a permanecermos envolvidos:

“Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima” (Hb 10:24-25).

III. Quais são os benefícios da igreja local?

Quando superamos nosso desejo por independência e nos tornamos envolvidos na igreja local, obtemos grandes benefícios espirituais. Vamos examinar brevemente alguns deles.

  1. Um lugar para adorar


    Nós glorificamos a Deus pelas nossas vidas e na nossa adoração. E eis porque a adoração é a chave na vida de todo cristão e na prática da igreja como um todo. O louvor e a honra que expressamos a Deus, em particular e na adoração coletiva, terá continuidade até a eternidade.

    Podemos ter uma atitude de adoração individual todos os dias da semana, à moda do que Paulo ordenou quando ele disse: “Orai sem cessar” e “Em tudo, dai graças” (1Ts 5:17-18). Mas se o objetivo da adoração for trazer glória para Deus, adorar por conta própria não é o suficiente. Quando os cristãos se reúnem com a atitude de adoração, a glorificação, magnificação e honra a Deus se multiplicam inúmeras vezes. Quando fazemos isso, somos atraídos para mais perto dEle e uns dos outros.

  2. Um lugar para crescer


    O crente está exposto a uma diversidade de idéias religiosas ao longo de sua vida.

    É interessante notar que o processo de crescimento que Deus designou para o crente depende de ser alimentado pela Palavra, que é o conteúdo verdadeiramente bíblico. Pedro usa a ilustração da necessidade que a criança tem do leite:

    “[...] desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação, [...]” (1Pe 2:2).

    A palavra grega que foi traduzida por “genuíno” nesse versículo poderia ser traduzida literalmente por “não adulterada.” O texto da Bíblia em si mesmo é o ingrediente central para abrigar a verdade espiritual. As igrejas que ensinam e pregam a Palavra fielmente são uma fonte valiosa de alimento para o crente.

  3. Um lugar para ter comunhão


    Não é preciso ser um cristão por muito tempo sequer, para se dar conta de que Deus é santo e que temos a tendência

    de pecar. Embora possamos tentar sinceramente obedecer, nossas escolhas erradas podem inibir não apenas nossa comunhão com Deus, mas também podem criar uma separação entre crentes individuais. O remédio para isso é a purificação e reconexão contínua com Deus e outros crentes na comunhão.

    “Ora, a mensagem que, da parte dele, temos ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma. Se dissermos que mantemos comunhão com ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1Jo 1:5-7).

    A palavra grega para “comunhão” é koinonia e significa “ter todas as coisas em comum” com alguém. Como crentes, nossa identidade derradeira está ligada, através de Cristo, ao nosso Pai celestial e uns aos outros. Ter a Cristo em comum é a grande base para toda comunhão.

  4. Um lugar para contribuir


    Quando alguém recebe uma maravilhosa oportunidade para prosperar, ele muitas vezes sente a necessidade de dividir com os outros os recursos com os quais foi abençoado. Ao contribuir financeiramente com uma igreja local, podemos ajudar a expandir os ministérios de alcance e crescimento, dar assistência aos pobres e enviar missionários para o mundo para expandir o reino de Cristo.

    O ponto central de toda a idéia de devolução é a motivação que Deus deseja de nós.

    “Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria. Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra, [...]” (2Co 9.7-8).

    Na medida em que planejamos alegremente contribuir para a obra do Senhor, temos a promessa de que Deus irá prover as nossas necessidades e multiplicar as oportunidades de praticar boas obras.

  5. Um lugar para servir

A igreja local é um lugar em que líderes talentosos podem providenciar treinamento, a fim de que possamos achar um lugar para servir ao Senhor.

Paulo o descreve da seguinte maneira:

“[...] com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4:12-13).

A palavra grega traduzida por “edificação” é um termo da pesca, usado para a costura de buracos nas redes de pesca. A conotação é muito significativa. Muitos de nós podemos nos sentir despreparados para ensinar aos outros, usando nossos talentos musicais, ou ajudar aos outros de alguma outra forma. Você poderá dizer que sentimos uma lacuna no nosso treinamento. Eis porque Deus providenciou líderes capacitados para fornecer treinamento, a fim de que possamos preencher nossas lacunas.

IV. A imagem da cabeça e do corpo

A analogia primária que o Novo Testamento fornece para nos ajudar a compreender a intenção de Deus para a igreja é aquela do corpo, com Jesus Cristo sendo o cabeça, e todos os crentes sendo as várias partes do corpo que respondem à liderança da cabeça.

Paulo explica isso quando ele fala da honra dada por Deus a Jesus:

“E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef 1:22-23).

Quando Jesus deixou esse mundo, Ele prometeu aos Seus seguidores que enviaria o Espírito Santo para viver dentro deles e, dessa forma, Sua presença seria engrandecida nesse mundo através dos cristãos. O Espírito Santo, que está vivo em nós, é o que dá vida ao corpo de Cristo, que é a igreja, e o controle das várias partes do corpo é feito por meio da cabeça, o próprio Jesus Cristo.

Mais uma vez, Paulo nos ajuda a entender isso, quando ele diz:

“Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito” (1Co 12:12-13).

Uma das implicações da analogia do corpo é que nós, como cristãos, estamos unidos. Ao descrever a igreja, as Escrituras não dizem apenas que somos membros de um corpo, o corpo de Cristo, mas também que cada parte do corpo tem uma função particular, que funciona em conjunto com as outras partes. Paulo diz especificamente que, da mesma forma como o nosso corpo físico tem olhos, ouvidos, nariz, mãos e pés, os membros da igreja têm papéis variados, mas complementares, planejados para dar suporte e trabalhar com as outras partes (1 Coríntios 12:15-27).

Um exemplo que Paulo dá é que, se uma parte do corpo está sofrendo, todo o corpo sofre (1 Coríntios 12:26). Sabemos que isso é verdade para os nossos corpos físicos. Quando cortamos a mão, a ferida é sentida na mão, mas o corpo todo reage. Nossa boca grita de dor. Nossos glóbulos brancos ficam atarefados, lutando contra a infecção e as células se organizam para formar uma crosta e para curar a ferida. Muitas partes do corpo trabalham juntas para fazer isso acontecer. Da mesma forma, indica Paulo, nós, como membros do corpo de Cristo corremos para ajudar um membro que está sofrendo. Em poucas palavras, os membros do corpo trabalham juntos para o bem do todo e para a realização da obra de Deus nesse mundo.

V. Dons espirituais


Deus prometeu que Ele vai atribuir a nós uma função no corpo e que, ao fazer isso, Ele vai nos dar as habilidades para desempenho dessa função, a fim de trazer benefícios ao corpo e glorificá-lo. Ele chama essas habilidades especiais de dons espirituais, porque são dados pelo Espírito Santo. Quando botamos em prática os dons que Deus dá, passamos a estar em condições de fazer coisas que jamais poderíamos ter sonhado em fazer por conta própria.

Quando confiamos nos dons espirituais, descobrimos que o que fazemos e dizemos tem um poder e efetividade que nós não teríamos de qualquer outra forma. Recebemos os dons espirituais de forma sobrenatural para realizar uma obra sobrenatural.

Quais são alguns dons ou habilidades que o Espírito oferece?

Achamos listas em Romanos 12:6-8; 1 Coríntios 12:8-10; Efésios 4:11; e 1 Pedro 4: 10-11. Esses dons incluem serviço, fé, ensino, profecia, evangelismo, contribuição, liderança, misericórdia, sabedoria, conhecimento e cura. Eles devem ser usados para fortalecer a igreja e para compartilhar a mensagem de Cristo (1 Coríntios 14:4-5, 26; Efésios 4:11-13)

Na medida em que olhamos para esses dons, começamos a ver que, se as várias partes do corpo exercitam as funções que lhe forma atribuídas, as necessidades da igreja, como um todo, e como membros individuais, serão satisfeitas. Por exemplo, aqueles que têm o dom de ensinar ensinam a Palavra de Deus e todos se beneficiam.

Aqueles com o dom de evangelismo são ávidos por trazer outros para o corpo, introduzindo-os a Jesus, a sua cabeça. Aqueles que têm dons de governo, cuidam da liderança organizacional do corpo, e aqueles que têm dom de misericórdia conduzem os outros para ir ao encontro das necessidades físicas, financeiras e emocionais do membros do corpo. Todos aqueles que têm o dom da fé nos conduzem para novos níveis de serviço, tanto na igreja quanto no mundo ao nosso redor.

Como podemos saber quais dons posuimos?

Primeiro, pedimos ao Espírito Santo para nos mostrar. Ele pode nos atrair para um dom particular quando oramos por ele e na medida em que observamos necessidades entre os crentes com os quais adoramos e servimos.

Em segundo lugar, experimentamos nosso dom servindo em áreas de interesse, ou para as quais nos sentimos atraídos. Se esse serviço resulta em um boa reação daqueles com quem trabalhamos, e quando há uma aprovação ressoando a partir do Espírito, que está dentro de nós, podemos avançar, expandindo nosso uso desse dom para a glória de Deus.

VI. Um farol de luz espiritual

A igreja local é uma instituição imperfeita, porque é constituída de pessoas imperfeitas. Invariavelmente, haverá algum desacordo, por vezes, na comunhão dos redimidos. Entretanto, nossa missão de sermos uma luz para o mundo e provedores de verdade espiritual deve sobrepujar quaisquer diferenças menores que possamos ter com os outros.

“Fazei tudo sem murmurações nem contendas, para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo, preservando a palavra da vida, [...]” (Fp 2:14-16).

Quando, ao invés de reclamar, pedimos a Deus soluções positivas, podemos fazer progressos, rumo a sermos um farol espiritual para aqueles que ainda não acharam um Salvador.