Palestra
Introdução
A era dos Primórdios da história do AT terminou com Israel às margens do Rio Jordão, aguardando para entrar na sua terra. Aquela geração havia vivido em tendas e muitos haviam comido Maná a vida toda e estavam agora preparados para se estabelecer na terra que Deus havia prometido para o seu pai Abraão.
Chamamos o próximo período de era do Estabelecimento, porque os livros “do tempo” de Josué e Juízes e os livros “em cores” de Rute e Deuteronômio contam a história da invasão e assentamento de Israel em sua terra. A era do Estabelecimento é difícil de datar com precisão, mas ela cobre um período de mais de 400 anos. O período começou com a comissão em Josué 1, prosseguiu ao longo do período desastroso dos juízes, e terminou com uma transição para a era do Reinado.
A era do Estabelecimento conta três histórias centrais. Primeiro, Deuteronômio descreve a aliança entre Deus e Israel que os preparou para viver na sua nova terra. Segundo, Josué conduziu Israel para tomar posse da sua terra, dividiu-a entre as tribos, e se estabeleceu para viver nela. Juízes registra a rebelião de Israel contra Deus e as consequências trágicas do seu pecado. Terceiro rute nos fornece um vislumbre do povo de Israel que permaneceu fiel a Deus ao longo do período terrível registrado em Juízes.
Josué
Josué é o livro do sucesso. O propósito do livro é de mostrar como Deus manteve a Sua promessa de conduzir Israel para a terra que Ele prometeu dar a Abraão e seus descendentes. A sua ideia central é que Deus recompensa a obediência. Seu povo seguiu a Sua lei e Ele guiou e protegeu Israel, na medida em que reclamava a terra de Abraão.
A história de Josué cobre a de Israel desde a comissão de Josué, no capítulo 1, até a sua morte, no capítulo 24; e ela tem três atos principais. Primeiro, Israel conquista a sua terra sob a proteção de Deus (cap. 1–12). Em seguida, eles dividem a terra entre as tribos e apontam cidades para os Levitas (cap. 13–21). O livro se encerra com as duas falas de Josué a Israel, nos capítulos 22–24. Ele relembra a fidelidade de Deus para com Israel, de Abraão até o presente, e depois, baseado na fidelidade de Deus, ele desafia Israel e viver pelas leis de Deus.
Josué é o personagem principal do livro. Ele foi apresentado pela primeira vez em Êxodo 17, como o líder militar de Israel. Ele também foi a única pessoa que teve a permissão de acompanhar Moisés ao Monte Sinai, quando Deus deu a lei a Israel (Êxodo 24.13). Ele e Calebe foram os dois espias que exortaram Israel a confiar em Deus e invadir Canaã.
Josué 1–12 registra a comissão de Josué, que foi o homem da escolha de Deus para conduzir Israel na entrada da sua terra. O livro então registra a travessia milagrosa do Rio do Jordão, a derrota de Jericó, e as muitas vitórias que Israel experimentou, na medida em que reclamava a sua terra.
Em seguida, os capítulos 13–21 descrevem como foi que Israel alocou partes da terra para as doze tribos. Os dois discursos de exortação e a reação positiva de Israel encerram o livro em grande estilo. Josué desafiou Israel: “temei ao Senhor, e servi-o com sinceridade e com verdade.” Ele os exortou a jogarem fora os seus ídolos e tomarem uma decisão consciente de seguir a Deus. Ele deixou a sua própria escolha clara para eles, dizendo: “Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR.” (Js 24.14–15 ARA). O povo reagiu e “Serviu [...] ao SENHOR todos os dias de Josué e todos os dias dos anciãos que ainda sobreviveram por muito tempo depois de Josué e que sabiam todas as obras feitas pelo SENHOR a Israel” (Js 24.31 ARA).
Juízes
Juízes 1.1 dá continuidade ao relato de Josué e articula os dois livros da era do Estabelecimento. “Depois da morte de Josué, os israelitas perguntaram ao Senhor: ‘Quem de nós será o primeiro a atacar os cananeus?’” (NVI). Juízes 1.1–26 registram o sucesso de várias tribos, na medida em que conquistavam seus territórios. Mas então, em 1.27, o espírito muda com um lista daquelas tribos que desobedeceram ao mandamento de Deus de expulsar os cananeus daquela terra. Deus não havia mandado Israel viver entre os cananeus ou de participar de suas religiões. Mas Juízes 2.11 nos diz: “Então os israelitas fizeram o que o Senhor reprova e prestaram culto aos baalins” (NVI). O restante da história de Juízes dá continuidade a essa temática da desobediência de Israel e os juízos de Deus.
A ideia central dos Juízes é que Israel tenha falhado em manter as promessas que fez a Deus e sofreu as consequências de sua desobediência. O propósito do livro é de revelar o que aconteceu em Israel entre o seu sucesso debaixo da liderança de Josué e seu sucesso sob o reinado de Davi. A maioria dos personagens do livro são os seus juízes. Embora haja doze juízes mencionados no livro, apenas seis são tidos como juízes “maiores,” porque as suas histórias são contadas em maiores detalhes. Otoniel, Aod, Débora, Gedeão, Jefté e Sansão são os juízes maiores.
O livro se divide em três partes. A introdução registra o fracasso de Israel em conquistar a sua terra completamente. (1.1–2.5). Em seguida, a parcela mais extensa do livro repete o ciclo de quarto passos da desobediência de Israel. (1) Descreve-se o pecado de Israel. (2) Deus julga a sua desobediência enviando uma das nações vizinhas para oprimi-los. (3) Israel se arrepende, e (4) Deus envia um herói, chamado de juiz, para libertá-los. Juízes registra seis desses ciclos em 2.6–16.31. Cada ciclo começa com o anúncio de que “os filhos de Israel fizeram o que era mau perante o SENHOR” (3.7, 12; 4.1; 6.1; 10.6; 13.1).
A parte final, registrada nos capítulos 17–21 revela a degradação trágica da vida religiosa e cívica de Israel no tempo dos juízes. O povo de Deus o havia rejeitado como o seu Rei e esses cinco capítulos descrevem, em detalhes terríveis, o quanto a vida havia ficado ruim. Essa parte final da narrativa se inicia e termina com o mesmo anúncio de que “Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada qual fazia o que achava mais reto” (17.6; 21.25 ARA). E a declaração de que “não havia rei em Israel” é repetida mais duas vezes em 18.1 e 19.1. O escritor enfatiza o que aconteceu quando Israel rejeitou a Deus como o seu Rei. Sem rei e forma de governar o comportamento das pessoas, mesmo o povo escolhido por Deus, com toda a sua história de Suas bênçãos, se tornou uma nação perigosa, bárbara. O livro de Juízes foi escrito durante a monarquia de Israel e demonstrava, porque Israel precisava de um rei para governá-la.
Deuteronômio
Josué e Juízes são os livros “do tempo” que fazem a narrativa do AT avançar através da era do Estabelecimento em sua história. Mas há detalhes importantes que são acrescentados nos livros “em cores” de Deuteronômio até Rute. Deuteronômio é um dos documentos mais importantes do AT, porque apresenta a aliança teológica que explica e interpreta a história de Israel dos tempos de Moisés até o fim do AT. Os eventos do livro ocorreram no final da história de Números.
A ideia principal de Deuteronômio é mais bem expressa nas próprias palavras de Moisés:
Vejam que hoje ponho diante de vocês vida e prosperidade, ou morte e destruição. Pois hoje lhes ordeno que amem o Senhor, o seu Deus, andem nos seus caminhos e guardem os seus mandamentos, decretos e ordenanças; então vocês terão vida e aumentarão em número, e o Senhor, o seu Deus, os abençoará na terra em que vocês estão entrando para dela tomar posse. Se, todavia, o seu coração se desviar e vocês não forem obedientes, e se deixarem levar, prostrando-se diante de outros deuses para adorá-los, eu hoje lhes declaro que, sem dúvida, vocês serão destruídos. Vocês não viverão muito tempo na terra em que vão entrar e da qual vão tomar posse, depois de atravessarem o Jordão Dt 30.15–18 (Nova Veasál International (NVI)).
Esse código ou fórmula que Moisés deu a Israel em Deuteronômio prometia as bênçãos de Deus para obediência e Suas maldições pela desobediência. Eis aí a ideia central de Deuteronômio.
Josué e Juízes, os próximos dois livros no AT, ilustram esse código de Deuteronômio em detalhes gráficos. Israel obedeceu a Deus sob a liderança de Josué e Deus protegeu e abençoou-os. Juízes registra a frustração e fracasso de Israel, por sua rebeldia contra Deus e Suas leis. Esse mesmo código de Deuteronômio caracterizou os séculos sob os reis obedientes e desobedientes de Israel e levou à sua destruição e escravização final da parte de poderes estrangeiros.
Deuteronômio está organizado em torno de três pronunciamentos que Moisés fez para Israel. No primeiro discurso, registrado em 1.1–4.43, Moisés reitera a fidelidade de Deus para com Israel. O segundo discurso, que se encontra em 4.44–28.68, organiza as leis essenciais de Israel em torno dos Dez Mandamentos que Deus deu no Sinai. Em seguida, no terceiro discurso, que vai do capítulo 29–33, Moisés deixa claro, como Deus iria abençoar Israel por obediência àquelas leis e amaldiçoá-los por desobediência. Esses capítulos, chamados de o código de Deuteronômio, caracterizaram a história de Israel, dos tempos em que ele foi conferido, até o fim do AT. Deuteronômio 34 registra a morte de Moisés.
Moisés é o personagem essencial de Deuteronômio. Mas é importante lembrar que os seus discursos foram dados aos filhos dos cidadãos de Israel que saíram do Egito. O propósito do discurso foi de personalizar a aliança de Deus com essa geração de Israel como forma de prepará-los para o seu sucesso na sua nova terra. Uma ênfase maior do livro é o famoso “Shema” de Israel, registrado em Deuteronômio 6.4-5: “Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças” (NVI). Essa declaração crucial estabelecia quem era o Deus de Israel, o fato de que Ele era um só Deus e que o relacionamento que Ele desejava entre Si e Seu povo era baseado no amor.
Rute
O segundo livro em cores na era do Estabelecimento é uma história de sucesso em meio ao fracasso. O versículo de abertura nos diz que os eventos ocorreram “Na época dos juízes” (Rt 1.1 NVI). A ideia central de Rute é que, mesmo que Israel, enquanto nação, tenha desobedecido às leis de Deus, Deus ainda abençoava indivíduos que lhe obedeciam. Os personagens principais são Noemi, Rute e Boaz. Em 1.1–5 Noemi e a sua família mudam-se para Moabe, devido à fome em Israel. Um dos filhos de Noemi casa-se com uma moabita chamada Rute. Depois que o marido de Noemi e filhos morrem em Moabe, Noemi volta para Belém e Rute a acompanha (1.6–22).
Na parte central da história registrada em 2.1–4.12, Rute se casa com um homem piedoso em Belém, chamado Boaz e eles têm um filho. A história conclui com Noemi, segurando o filho de Rute e Boaz, Obede. O propósito desse pequeno livro se revela então. Rute 4.16–22 nos conta que Obede era o pai de Jessé, o pai de Davi. Deus havia abençoado maravilhosamente a obediência de Noemi e Rute. Ele deu a Rute um marido para cuidar dela e depois lhes deu um filho. Mas Deus também colocou essa mulher moabita que seguiu a Sua lei na linhagem do Rei Davi. E porque ela estava na linhagem de Davi, ela foi uma ancestral do Messias prometido por Deus. Mateus incluiu o nome de Rute, quando ele escreveu a genealogia de Jesus (Mateus 1.5).
Sob o governo do código de Deuteronômio, a era do Estabelmento introduziu, em histórias gráficas, as bênçãos gloriosas da obediência em Josué e Rute e as histórias trágicas de fracassos em Juízes. Que o leitor sábio pondere e pese cuidadosamente as verdades da era do Estabelecimento de Israel.