Palestra

Por que o AT deixa certas pessoas confusas

Muitas pessoas acham o AT difícil de ler. Elas curtem as histórias de Moisés e Sansão e Ester e Rute. Elas estão familiarizadas com o templo e o tabernáculo e elas reconhecem os nomes de lugares como o Sinai, Jerusalém e a Babilônia. Mas esses nomes e lugares familiares são difíceis de encaixar em um todo.

Entender o AT é, para muitos, como montar um quebra-cabeça sem o quadro completo dele. Eles têm a peça do Moisés e se perguntam que outra figura devem encaixar ao lado dela. Como ele se relaciona ao Sansão ou Ester ou Rute? Se é que ele se relaciona a essas figuras. Essa lição foi projetada para pintar um quadro do AT de modo que você saiba como articular as histórias individuais de tal forma que o seu quadro geral se encaixe no quadro geral do AT.

Os livros do AT

Uma das razões, porque as pessoas ficam confusas com o AT é que elas tentam lê-lo como um livro de história ou novela. Esses tipos de livros começam do início e vão até o final. Mas o AT não está disposto dessa forma. Ao contrário, os trinta e nove livros do AT estão organizados pelo tipo de literatura que esses livros contém. É importante saber que há três tipos de livros no AT.

Os primeiros dezessete livros, do Gênesis a Ester, são escritos, em grande parte, em forma narrativa. Eles contam a história do AT e estão dispostos como se fossem capítulos em um livro de história.

Mas depois do livro de Ester, entramos no mundo dos cinco livros poéticos e sapienciais do AT. Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos de Salomão não nos contam nada da história de Israel. Eles apresentam os belos escritos de poesia e sabedoria de Israel.

Depois do livro de Cântico dos Cânticos de Salomão, começamos a ler os dezessete livros proféticos de Israel. Isaías até Malaquias registram as mensagens dos profetas de Israel.

Assim, o Antigo Testamento contém dezessete livros de narrativas, cinco livros de poéticos e sapienciais e dezessete livros de escritos proféticos. Nas lições 2 e 3 vamos estudar os relacionamentos entre esses trinta e nove livros, para que possamos compreender melhor como o AT está organizado.

Em seguida, da lição 4 até 10, vamos explorar esses livros em um pouco mais de detalhe. Mas antes de entrar nos detalhes dos livros do Antigo Testamento, é essencial que compreendamos a lógica do AT. Na presente lição, vamos pintar o quadro do AT para que possamos descobrir onde se encaixa cada peça do puzzle do AT.

A história do AT

Vamos primeiro firmar a linha histórica do AT na nossa mente. Somente então, poderemos ver, onde os poetas e profetas do AT se encaixam e compreendê-los. Dissemos que a história do AT é contada nos primeiros dezessete, dos trinta e nove livros do AT e é importante saber disso. Mas vamos fazer uma nova distinção aqui, dividindo os dezessete livros narrativos ou de histórias em duas categorias.

Embora todos os dezessete livros contribuam para a história, apenas onze dos dezessete representam um avanço na mesma. Os outros seis livros incluem eventos importantes que acrescentam detalhes ao enredo principal. Se você estivesse ouvindo um contador de histórias que discorresse consistentemente e deixasse a história se enredar em muitos detalhes, poderia apreciar a diferença entre livros que deixam a história fluir e aqueles que acrescentam detalhes que são importantes, mas não contribuem para o progresso da história.

Para efeito da presente lição, vamos chamar os livros que fazem a história avançar, de livros “do tempo” e aqueles que acrescentam comentários à história, de livros “em cores.” Por exemplo, Êxodo é um livro “do tempo.” Ele faz a história avançar. Ele nos conta sobre os eventos no Monte Sinai, em que Moisés recebeu a lei de Deus. Essas 613 leis foram essenciais para a vida de Israel e necessitavam ser registradas para eles – e para nós. Mas Êxodo é uma narrativa. Trata-se de uma história. Assim, Moisés não listou e descreveu todas aquelas leis no livro de Êxodo. Ele as colocou em um livro separado chamado Levítico, que acrescenta detalhes essenciais à história do Sinai. Ele dá um “colorido” aos eventos registrados no Êxodo. Mas isso não faz a história avançar cronologicamente e poderia enredar os leitores, de modo que eles nunca terminassem a história que Moisés nos conta sobre o êxodo do Egito e os eventos do Monte Sinai. Já que essa lição foi projetada para nos fornecer um quadro geral do AT, vamos guardar nosso exame dos livros “em cores” para a lição 3 e analisar os livros “do tempo” apenas na presente lição.

Os livros do tempo

Vamos recapitular esse ponto. Há 17 livros que contam a história do AT. Nós os chamamos de livros de história ou livros narrativos. E então nós dividimos os livros narrativos que contam a história do AT em duas categorias. Os livros “do tempo” que fazem avançar a história e os livros “em cores,” que acrescentam detalhes à mesma. Os onze livros “do tempo” se encontram unidos umao outro como em um rolo de filme de cinema. Um livro retoma a história onde o livro anterior parou. Mas periodicamente a história necessita de elaboração ou explanação. É quase como se o Grande Contador de Histórias dissesse: “Pare um pouco aí. Há algumas informações importantes que temos que acrescentar à história, mas não quero sobrecarregar a história com demasiados detalhes.” Antes de parar a história, Deus apenas acrescentou outro livro que nos fornece os detalhes. Assim, temos livros “do tempo” e livros “em cores” que nos contam a história do AT. Na presente lição, vamos focar apenas nos livros do tempo, de modo que possamos compreender a história principal. Na lição 3, vamos integrar os livros “em cores,” os livros poéticos e profetas à história e ver, qual a sua contribuição. Mas antes, vamos pintar a imagem do quebra-cabeça para que possamos encaixar todas as peças no seu devido lugar.

As quatro eras do AT

A história do AT pode ser dividida em quatro períodos de tempo ou eras.

Chamamos o primeiro período de tempo de Primórdios, e ele inclui três dos livros do tempo: Gênesis, Êxodo e Números.

A segunda era está descrita em Josué e Juízes e é chamada de era do Estabelecimento.

A Terceira é a era do Reinado, e ela está registrada em 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis.

No final de 2 Reis, Israel foi conquistada pelos babilônios. Os muros e o templo de Jerusalém foram destruídos e o povo foi levado para a Babilônia como escravo. Setenta anos depois eles foram libertados pelos persas e lhes foi permitido retornar e reconstruir o seu templo, a sua cidade e as suas vidas. Esse quarto período da história do AT foi chamado de era do Exílio e Reconstrução e se encontra registrado nos livros de Esdras e Neemias.

Essa é uma visão panorâmica muito ampla da história do AT, com suas quatro divisões ou eras: Primórdios, Estabelecimento, Reinado e Exílio/Reconstrução. Agora que temos o quadro geral, vamos retomá-los de novo e acrescentar um pequeno detalhe. Vamos estudar cada uma dessas eras mais detidamente nas lições 4 até 10. Mas na presente lição é importante firmar o quadro geral na nossa mente. Se o presente curso de princípios básicos do AT está despertando o seu interesse, você deveria considerar fazer os cursos mais detalhados, ministrados pelo Dr. Douglas Stuart (Os cursos OT216–OT227 estão listados no catálogo da Christian University GlobalNet - CUGN).

Primórdios

Gênesis significa “princípio” ou “primórdio” e o livro nos conta que tudo começou com o ato de criação de Deus.

O livro começa, dizendo simplesmente: “No princípio criou Deus os céus e a terra.” Os capítulos 1–11 nos contam como Deus criou o universo e o mundo e os primeiros seres humanos. Eles também descrevem a introdução do pecado na condição humana e os seus resultados trágicos. A história de Noé está incluída aqui para mostrar a força da rebelião do homem contra Deus.

Em seguida, Gênesis 12–50 descrevem o início de Israel. Abraão, Isaque e Jacó são referidos como os patriarcas, ou pais do povo judeu. O resto da história do AT fala essencialmente sobre o relacionamento de Deus com Israel, e tal história começa em Gênesis 12. O livro de Gênesis termina com os descendentes de Abraão, vivendo no Egito como hóspedes privilegiados do Faraó.

Êxodo é o segundo livro “do tempo” que faz a história do AT avançar. Ao longo dos 400 anos entre o fim de Gênesis e o começo de Êxodo, os descendentes de Abraão se tornaram escravos dos egípcios e estavam desejosos por sair do Egito. Deus preparou um libertador chamado Moisés que, depois de uma série de pragas sobre os egípcios, conduziu Israel para fora do Egito, atravessando o Mar Vermelho e descendo para o Monte Sinai. Lá, eles receberam os Dez Mandamentos e as outras 613 leis de Deus, que governaram as suas vidas pelo resto do AT.

O terceiro livro “do tempo” é Números, e ele começa com Israel no Sinai, esperando pela ordem de Deus para entrarem na terra de Canaã. Quando Deus os conduziu para a entrada em Canaã, eles se recusaram a entrar, porque estavam com medo das pessoas que lá moravam. Números nos conta a triste história da peregrinação de Israel pelo deserto por quarenta anos, comendo o maná providenciado por Deus, enquanto a geração desobediente de Israel que saiu do Egito morria no deserto do Sinai. Eles haviam implorado para que Deus não os fizesse entrar em Canaã e a sua resposta à sua oração os condenou a uma vida de peregrinação vazia de sentido pelo deserto do Sinai. No final de Números, os filhos daqueles que se recusaram a entrar em Canaã alcançaram a idade adulta e foram preparados para entrar na terra que Deus havia prometido para os seus pais e para se estabelecer na vida como povo de Deus.

Estabelecimento

Josué e Juízes são referidos como os livros de período de Estabelecimento. Josué é o livro que descreve o sucesso de Israel e vitórias, na medida em que eles conquistavam a sua nova terra. O livro faz a história avançar até a conquista israelense de Canaã e descreve como eles dividiram a terra entre as doze tribos e se estabeleceram nela. Deus abriu o rio Jordão, de modo que eles pudessem atravessá-lo para o seu novo lar em terra seca. A sua confiança na presença de Deus foi reforçada pela batalha sobrenatural de Jericó. Da mesma forma que Deus havia providenciado um êxodo miraculoso do Egito, Ele reassegurou a Sua presença aos Seus filhos através de uma entrada miraculosa em Canaã.

Depois que Josué, o seu líder, morreu, o povo se rebelou contra as leis de Deus. O livro de Juízes descreve a rebelião de Israel e seus resultados trágicos. Israel violava a sua aliança com Deus constantemente, e Ele permitiu que várias nações locais saqueassem a sua terra. Toda vez, Israel clamava a Deus por ajuda e, em resposta, Deus levantava um libertador ou juiz para expulsar o inimigo. Em Juízes, lemos as histórias de juízes como Gideão, Sansão e Débora.

Era do Reinado

A temática dos Juízes era que todo mundo estava fazendo o que era certo a seus próprios olhos. Essa anarquia contribuiu para o desejo de Israel por ter um rei governando sobre eles e os guiar na era do Reinado de Israel. Samuel foi o último juiz de Israel, e ele introduziu a era do reinado e ungiu Saul como o primeiro rei de Israel. 2 Samuel descreve o reino de Davi e os dias mais gloriosos de Israel.

1 Reis fala do reinado de Salomão e a sua construção do belo templo de Israel. Mas esse livro também introduz as sementes da destruição de Israel. A começar em 1 Reis 12 até 2 Reis, lemos como Israel se dividiu e se transformou em duas nações, Israel e Judá. Uma série de reis maus em Israel, e uma mistura de reis bons e maus em Judá, acabou levando à destruição de ambas as nações.

Exílio e reconstrução

A derrota de Judá pelos babilônios incluiu a destruição de Jerusalém e do templo de Salomão e a deportação e escravização de seus cidadãos. O seu exílio durou 70 anos, até que os persas derrotaram os babilônios. Os persas libertaram os judeus cativos e providenciaram recursos para eles reconstruírem o seu templo, os muros de sua cidade e as suas vidas. Os livros de Esdras e Neemias registram os eventos da era da reconstrução. Termina aí a história do AT.

Conclusão

A história do AT inclui grandes sucessos e fracassos trágicos. Trata-se de uma história do envolvimento fiel de Deus com o Seu povo. Trata-se de uma história do abuso de Israel de sua liberdade de tomar decisões. Ela descreve as consequências trágicas que ocorrem quando o direcionamento gracioso de Deus é ignorado. Mas a melhor parte da história é que no final do AT, Deus não abandonou as Suas promessas a o Seu povo. Ele ainda ama e cuida pacientemente dele – da mesma forma que Ele faz conosco.