Palestra

Introdução

Na lição um, afirmamos que Jesus é o foco essencial do NT. Na lição dois, fizemos um levantamento dos quatro evangelhos, porque eles incluem o registro mais preciso da vida de Jesus na terra. Nessa lição, focamos em Jesus como pessoa. Vamos dar uma olhada em passagens bíblicas, que apresentam a Jesus como Deus, e outras, que o apresentam como ser humano. Depois, vamos discutir brevemente a vida e ministério de Jesus, enquanto estava na terra.

I. Jesus é Deus

A Bíblia deixa muito claro que ela pretende que o seus leitores acreditem que Jesus era e é Deus. Ele não era um anjo ou semideus ou grande profeta. Ele não era em nenhum sentido menor do que Deus, o Pai ou o Espírito Santo. Toda a mensagem da Bíblia se sustenta a partir desse ponto singular da divindade de Jesus.

A. A humildade de Jesus com relação à Sua divindade

Em Filipenses 2, Paulo disse que Jesus não considerava a Sua igualdade com Deus algo de que deveria se aproveitar, mas reduziu-se a nada. Assim, não vemos Jesus tomando grandes iniciativas para provar a Sua divindade.

B. As ações de Jesus demonstravam a Sua divindade

Mas encontramos múltiplos exemplos nos evangelhos em que, quando solicitado ou desafiado, Jesus deixou claro que Ele sabia que era Deus. Por exemplo, em Marcos 2, quando Ele perdoou os pecados do homem paralítico, os líderes religiosos o desafiaram, dizendo que apenas Deus poderia perdoar o pecado. Ao invés de debater com eles, Jesus fez uma outra coisa que só Deus poderia fazer. Ele curou o paralítico. E Marcos deixa claro que Ele fez isso para provar que Ele era Deus.

C. As reivindicações de Jesus afirmam a Sua divindade

Em várias ocasiões, Ele também reivindicou ser um com o Pai. No seu julgamento diante do sinédrio, Ele reivindicou claramente ser o Filho de Deus.

O sumo sacerdote lhe disse: “Exijo que você jure pelo Deus vivo: se você é o Cristo, o Filho de Deus, diga-nos.” “Tu mesmo o disseste,” respondeu Jesus. “Mas eu digo a todos vós: Chegará o dia em que vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.” Foi quando o sumo sacerdote rasgou as próprias vestes e disse: Blasfemou! Por que precisamos de mais testemunhas? Vocês acabaram de ouvir a blasfêmia (Mt 26:63-65 NVI).

Jesus poderia ter negado a Sua divindade para o sumo sacerdote ou para Pilatos e Sua vida teria sido poupada. Mas Ele nunca fez isso. Ele não podia negar que era Deus, porque era verdade. Assim, para dizer que os escritores não acreditavam que Jesus era Deus ou que Jesus nunca tivesse reivindicado que Ele era Deus ou que o NT nunca tenha reivindicado que Jesus era Deus requer uma leitura totalmente equivocada das Escrituras. Jesus era—e é—o Filho de Deus.

D. Os evangelhos afirmam a divindade de Jesus

  1. Mateus e Lucas. Considere como Mateus e Lucas iniciam os seus evangelhos. As suas genealogias e histórias de nascimento falam do fato surpreendente de que Maria ficou grávida, quando ainda era virgem. Essa era uma alegação impressionante, mas Mateus e Lucas dizem que foi assim mesmo. Eles não oferecem argumentos de defesa, apenas os fatos.

    2. Marcos e João. Marcos começou o seu evangelho com uma referência à profecia do AT. Ele se refere a Isaías 40 e à vinda de João Batista, o grande profeta que iria anunciar o Messias. Então, ele mergulha diretamente na sua história, dizendo que Jesus Cristo veio para cumprir essa profecia.

    João também não começa o seu evangelho com o nascimento de Jesus. Já que o seu propósito era de apresentar Jesus como Deus, ele começou com a existência eternal de Jesus. Ele reivindicou que no início era o Logos (a Palavra), que o Logos estava com Deus e que o Logos era Deus. O Logos havia criado tudo. O Logos é a fonte de vida e de luz. E então o Logos se tornou carne e habitou entre nós. Assim, não é possível passar sequer do primeiro capítulo de nenhum dos quatro evangelhos sem entender que cada um deles assume que essa pessoa, sobre a qual estavam escrevendo, seja Deus.

    3. Todos os quatro evangelhos. Os quatro autores dos evangelhos não afirmaram a divindade de Jesus apenas em suas introduções, mas também em suas conclusões. Todos os quatro autores terminaram o seu relato da vida de Jesus com a Sua crucificação e Sua ressurreição. Todos os fundadores de todas as religiões morreram. Mas apenas o cristianismo alega que o seu fundador ressurgiu dos mortos.

    Os evangelhos iniciam-se e terminam com esse tema incrível e não deixam dúvidas nas mentes dos seus leitores de que esse homem magnífico sobre o qual estão falando seja outro se não o Filho de Deus.

    Os evangelhos estão cheios de referências à divindade de Jesus. Listar todas as referências estaria bem além do escopo desse curso introdutório, mas até mesmo uma leitura ocasional dos evangelhos não deixa dúvidas de que Jesus acreditava que Ele era o Filho de Deus, e que os autores dos evangelhos criam e declaravam a verdade de Sua alegação.

    C. S. Lewis, em seu livro conhecido também como Mero Cristianismo, faz a observação maravilhosa de que, já que Jesus acreditava que era Deus, Ele tinha que ter sido ou um lunático, ou um mentiroso ou o Filho de Deus.

E. Todo o NT afirma a divindade de Jesus

A mensagem do NT é baseada no fato de que Jesus é Deus; e nesse curso não é possível discutir as centenas de referências que ele faz à divindade de Jesus. Vamos limitar as nossas referências a três passagens para encorajá-lo a lê-las por inteiro.

  1. Filipenses 2:6 nos ensina que Jesus estava na “forma” de Deus. Tanto no grego clássico quanto bíblico, a palavra que se traduz por “forma” se refere às características que tornam alguma coisa aquilo que é. A palavra metamorfose é derivada dela, e ela nos diz que Jesus tinha tudo o que era preciso para se qualificar como Deus.

    2. Colossenses 1:15–20 afirma que Jesus é a “imagem do Deus invisível.” E que “nele, foram criadas todas as coisas.” Que “Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.” E que Deus se agradou de ter toda a Sua “plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da Sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas” (ARA).

    3. Hebreus 1:1-4 afirma que Deus falou através do Seu Filho. “a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo.” O trecho diz que Ele “é o resplendor da glória e a expressão exata do Seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do Seu poder.” E Hebreus nos garante que Jesus, o Deus-homem, cumpriu com a Sua missão terrenal como Salvador e agora está realizando a Sua missão celestial como nosso Sumo Sacerdote. “[D]epois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas.”

Essa amostra reduzida deve nos convencer de que o NT, desde Mateus até o Apocalipse, está baseado na afirmação de que Jesus Cristo seja Deus.

II. Jesus é humano

Por mais essencial que a divindade de Jesus tenha sido para o Seu ministério na terra, ela não era mais essencial do que a Sua humanidade. Para Ele morrer no nosso lugar, Ele teve que morrer como um de nós. Para nós obtermos conforto do Seu papel como nosso Sumo Sacerdote que entende nossas fraquezas, Ele teve que sofrer de forma legítima com aquelas fraquezas, como um ser humano. Assim, é necessário que nós acreditemos de forma tão confiante na humanidade de Jesus, quanto cremos na Sua divindade.

A. As ações de Jesus demonstram a Sua humanidade

Agora, dizer que Jesus era humano não é surpresa para ninguém. As pessoas o viam andando, falando, comendo e bebendo. Em sua primeira epístola, João deu testemunho de Jesus e declarou o que havia visto, ouvido e tocado com as suas mãos. Jesus não apenas viveu uma vida completamente humana. Ele também morreu uma morte humana. Jesus experimentou fome, fatiga, frustração, raiva, sofrimento e toda uma série de emoções humanas.

Hebreus nos ensina Jesus ofereceu “nos dias da Sua carne [...], com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da Sua piedade” (Hb 5:7 ARA).

B. As escrituras apresentam Jesus como ser humano

João introduziu Jesus como a Palavra de Deus em João 1:1-13, e estabeleceu Sua divindade de maneira clara. Depois, no versículo 14, ele declara: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós.” Paulo afirma que Ele “foi manifestado na carne” (1Tm 3:16) e que “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher” (Gl 4:4). Mesmo depois de Sua ressurreição, Jesus exortou os Seus discípulos: “Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai, porque um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” (Lc 24:39).

III. Jesus é completamente Deus e completamente humano

Paulo escreveu à igreja de Colosso para corrigir a sua confusão sobre Jesus. Em Colossenses 2:9, Paulo talvez nos ofereça a declaração sumária mais clara sobre Jesus Cristo de todo o NT. Ele escreve que: “nele [em Jesus], habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade.” Isso significa que Jesus tinha tudo o que um ser necessita para ser Deus. “Toda plenitude da Divindade habitava nele.” E então, o mesmo versículo nos diz em que formato Ele existia. Ele não estava em forma gasosa, Ele não era uma névoa e Ele não é um anjo. “Toda plenitude da Divindade habita nele em forma corpórea.”

Estamos beirando algum tipo de conflito teológico aqui, que está além do escopo desse curso sobre o NT. Mas se você estiver interessado em se aprofundar no estudo da natureza e ministério de Jesus, pense em fazer o curso da CUGN número ST302: “Cristologia,” para descobrir verdades mais profundas sobre o nosso Salvador. É incrível só de pensar nisso. Jesus era completamente Deus e completamente humano. Ele era uma Divindade irredutível e plena humanidade, unidos num só ser para sempre. Eis aí quem Jesus é.

IV. A vida de Jesus na terra

A. A ampla extensão de Sua vida

Como era a vida de Jesus? Bem, o Seu nascimento recebeu muita atenção. Profetas escreveram sobre isso e a história inclui anjos e homens sábios e um rei e pastores e uma virgem, que deu à luz um bebê. Incrível.

Entretanto, tudo o que sabemos da infância de Jesus é que, quando Ele tinha doze anos de idade, Ele ensinou a líderes religiosos no templo e que Ele cresceu em estatura com Deus e os homens.

Seu ministério começou quando Ele tinha 30 anos de idade (e durou pouco mais de três anos), e é nisso que a maior parte dos evangelhos registra o seu foco.

Ele morreu crucificado depois de um julgamento ilegal.

Mas três dias depois, Ele voltou da sepultura, e depois de quarenta dias, nos quais se apresentou vivo, Ele ascendeu aos céus.

B. A cronologia e geografia do ministério de Jesus

Ao lermos os evangelhos, é muito útil termos noção do “onde e quando” de Suas atividades. Seu ministério começou na Galileia, onde Ele permaneceu por vários meses. Seu primeiro milagre de transformação da água em vinho ocorreu em um casamento em Canaã da Galileia.

Depois ele se deslocou para o sul, aproximadamente a cento e dez quilômetros de Jerusalém, que se encontra na Judeia, para celebrar a Páscoa no templo. Ele permaneceu ali por vários meses e depois voltou para casa, na Galileia. No caminho, Ele parou no poço de Samaria, um território, que se localizava entre a Judeia e a Galileia, e teve a famosa conversa com a mulher samaritana.

Jesus permaneceu na Galileia por aproximadamente dezoito meses. Nesse período, Ele pregou o Sermão da Montanha e apontou os doze apóstolos. Esse período terminou quando os líderes religiosos o rejeitaram inequivocamente como o seu rei. Eles não podiam negar os milagres de Jesus, porque demasiadas testemunhas haviam os visto ou sido curadas. Assim, ao invés disso, eles alegaram que o pai de Jesus era o diabo, e que ele era quem estava lhe dando o poder de realização de milagres. Com essa blasfêmia, eles haviam ultrapassado um limite, e Jesus se retirou para territórios gentios.

Jesus ministrou nas áreas gentias de Decápolis e da Fenícia por aproximadamente seis meses, onde Ele realizou muitos outros milagres.

Depois Ele retornou aos territórios judaicos pelo tempo restante do Seu ministério. Quando você vê esses nomes geográficos nos evangelhos, é útil localizá-los em um mapa, de modo que possa ver, onde Jesus estava quando da ocorrência dos diversos eventos.

C. O foco na Semana da Paixão

A semana anterior ao último período da vida de Jesus é chamada de Semana da Paixão. Essa semana começou com o Domingo de Palmas, quando Jesus entrou na cidade de Jerusalém com Seus discípulos sobre um jumento e o povo o aclamou com sendo o seu Rei. Mas então, na sexta-feira daquela semana, eles o crucificaram. Três dias depois, no domingo pela manhã, Ele ressurgiu dos mortos. Chamamos o período de oito dias, do Domingo de Palmas até o Domingo da Ressureição, de Semana da Paixão.

É instrutivo que Mateus tenha devotado 25 por cento do seu evangelho àquela única semana. Em Marcos, 30 por cento do seu livro é devotado à Semana da Paixão. Vinte por cento de Lucas é focado na Semana da Paixão; e João devota 42 por cento de seu evangelho à Semana da Paixão.

Jesus esteve na terra por trinta e três anos, mas a quantidade de espaço dada a essa única semana de Sua vida reforça as reivindicações dos escritores do evangelho de que Jesus havia vindo para buscar e salvar pessoas perdidas. Todas as coisas magníficas que Jesus disse e fez foram cruciais. Mas todos os quatro autores dos evangelhos enfatizaram esse período, quando Jesus exerceu e se exaltou pelo que Ele realmente era. Ele não era ninguém mais, ninguém menos do que o Filho de Deus, que morreu por você e por mim.

Conclusão

O período final da vida de Jesus sobre a terra ocorreu após a Sua ressurreição. Lucas nos informa em Atos 1:3 que “Depois do Seu sofrimento, Jesus apresentou-se a eles [os apóstolos] e deu-lhes muitas provas indiscutíveis de que estava vivo. Apareceu-lhes por um período de quarenta dias falando-lhes acerca do Reino de Deus” (NVI).

Uma verdade fundamental sobre Jesus é que Ele continua vivo e ativo nas vidas do Seu povo. Um dos hinos mais populares declara: “Eu sirvo a um Salvador ressurreto, Ele está no mundo hoje; eu sei que Ele está vivo, não importa o que os homens possam dizer.”

Paulo declara que “se Cristo não ressuscitou, inútil é a fé que vocês têm, e ainda estão em seus pecados. Neste caso, também os que dormiram em Cristo estão perdidos. Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de compaixão” (1Co 15:17-19 NVI).

Mas Paulo nos garante que Jesus está vivo e que nossa esperança em Cristo não esteja limitada a essa vida. Trata-se de uma esperança eterna. Assim, os seus seguidores não são “as pessoas mais dignas de compaixão de todas.” Somos as pessoas mais dignas de inveja de todas, porque a nossa esperança está baseada em um Salvador vivo, que provou que é o próprio Filho de Deus.